Suspensão das aulas: Vai adiantar : 31/07/2009
Os esforços tentam evitar um cenário assustador: segundo as projeções mais pessimistas, até 35% da população seria contaminada – cerca de 3,7 milhões de gaúchos.
– Não temos como prever o pico. Com escolas fechadas, esperamos retardar esse pico. Todo o tempo ganho é importante – diz o diretor do Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Estado, Francisco Paz.
Segundo a historiadora Nikelen Witter, especialista em história da saúde e professora da Unifra, a quarentena é uma estratégia contra epidemias desde a época medieval, quando passageiros esperavam 40 dias para desembarcar dos navios, para evitar a disseminação da peste negra.
– A quarentena sempre funcionou como uma forma de diminuir o contágio avassalador durante a ascensão do vírus. Nós nos fortalecemos como espécie, porque da próxima vez já seremos mais fortes– analisa.
Oito razões para acreditar que o adiamento do retorno às aulas em escolas e universidades é uma política de saúde acertada:
1)Gera menos casos no pico da epidemia
Estudo publicado na revista Nature afirma que o fechamento das
escolas poderia evitar um em sete casos de gripe. Além disso, contribuiria
para desacelerar a propagação da doença, de modo que
os casos no pico do surto poderiam ser reduzidos em até 40%. Os
cientistas analisaram o impacto de feriados escolares na França
entre 1984 e 2006 para ver como taxas de transmissão são afetadas.
Criaram modelos para prever como fechamentos afetariam a
transmissão de um vírus de gripe.
Mais de 60% dos casos são de pacientes com até 18 anos, conforme
artigo publicado na revista The Lancet. No artigo, os pesquisadores
Simon Cauchemez e Neil Ferguson, do Departamento de
Epidemiologia e Doença Infecciosas, do Imperial College de Londres,
dizem que o fechamento pode quebrar a cadeia de transmissão,
com possíveis benefícios, como reduzir os casos, diminuir a
epidemia para dar mais tempo à fabricação de vacinas e limitar o
estresse no sistema de saúde.
Crianças são os principais vetores de transmissão do vírus,
com o dobro de chance de contágio do que os adultos. Enquanto
o tempo médio de contágio por um adulto infectado é de aproximadamente
sete dias, crianças ficam até 14 dias com o vírus,
explica o epidemiologista Jair Ferreira, do Hospital de Clínicas.
4)Alivia os sistemas de emergência
Estudo publicado no Pediatric Journal of Infectious Diseases indica
que, durante o fechamento das escolas no país, houve redução
de 42% das infecções respiratórias e 28% das consultas em emergências.
Foram examinados os efeitos de uma greve nacional no
ensino primário em Israel, em 2000, sobre a incidência de gripe. A
greve acabou enquanto o foco estava ainda em curso e, quando as
escolas foram reabertas, as infecções aumentaram novamente.
Quanto menor a aglomeração de pessoas, menor a circulação
do vírus. Com o fechamento das escolas, espera-se uma diminuição
na velocidade de contágio, o que facilita o atendimento dos
infectados. Neste mês, a Organização Mundial de Saúde recomendou
a suspensão das aulas por constatar que o vírus está se espalhando
rapidamente entre as escolas.
A previsão de frio aumenta a predisposição ao contágio de gripe.
Primeiro, porque, com a baixa nas temperaturas, as pessoas
tendem a ficar mais aglomeradas em espaços fechados, o que facilita
a transmissão. Segundo, porque o tempo gélido agrava dificuldades
respiratórias. Embora a nova gripe não seja mais grave
do que as gripes comuns, pelo simples fato de ser veiculada por
um vírus novo, ela tem uma maior capacidade de transmissão,
que aumenta nos períodos mais frios.
A medida extrema de prevenção é considerada porque, como
o vírus é novo e desconhecido, teme-se uma mutação para uma
forma mais perigosa.
O Estado argumenta que a suspensão das aulas é uma importante
estratégia de prevenção porque o Rio Grande do Sul é hoje
o principal foco de gripe A no país. Ter a maior linha de fronteira
com os países da América do Sul que têm os maiores índices
mundiais de epidemia é uma das razões que contribuem para esse
cenário. Também passa pelo Estado o maior volume de veículos
de carga provenientes do Chile para o Brasil.
Fonte: Jornal Zero Hora - 31/07/09